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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Depoimento de testemunha da destruição do AIR

(Extraido de publicação do Blog do Mércio Pereira Gomes)

Estive no acampamento indígena na manhã quando se dava a ação truculenta do
BOPE. Quando chegamos, eu e um companheiro do movimento indígena varamos o
cordão policial em torno dos indígenas, e começamos a mobilizar a imprensa e
jornalistas que conhecíamos. Não pudemos fazer muito, pois a polícia militar
começou a operação covardemente as 05h da manhã, e só fomos avisados quando
já era dia.
Quando chegamos lá havia aproximadamente 3 a 4 policiais para cada indígena,
e imediatamente começamos a fazer o que podíamos. Levamos uma advogada à 5a
DP, onde estavam detidos o documentarista que teve sua câmera quebrada e
seus filmes roubados, como ele mesmo registrou em queixa na delegacia. O
índio tupinambá estava machucado, com muito medo, e assim que saímos de lá
ele foi encaminhado ao IML. Quando estávamos na 5a DP imediatamente um
funcionário da FUNAI, supostamente "ouvidor", nos interpelou agressivamente,
enquanto outro nos fotografava. Os enfrentamos e a resposta cínica foi que
as perguntas e as fotos eram porque eles eram "curiosos".
Quando voltamos ao acampamento, ainda com as crianças muito assustadas e
algumas chorando, a menina citada na carta - menor de idade - voltava do
hospital. Seus documentos foram tomados pela FUNAI para que não pudessem
servir de base para processar o Estado. Como na carta das mulheres está
escrito, ela havia abortado uma gestação de aproximadamente 3 meses, e como
se não bastasse esta violência,  sofreu grande violência psicológica e
ameaças para que não levasse o caso adiante.
Nessa hora voltava ao acampamento o índio Corubo, a quem os policiais
tentaram prender também sem acusação, mas que havia conseguido fugir. Mesmo
sem saber falar bem português, ele foi ao Supremo Tribunal Federal e
requisitou uma audiência com o plantonista que lá estava. Ao chegarem no STF
a ordem recebida nos portões era de não deixar os índios entrarem.
Fiquei muito impressionado com o que li no Correio Braziliense e no Globo
(G1). Os jornalistas que presenciaram tudo estavam chocados com as histórias
que ouviram, de crianças de 2 e 4 anos vomitando sangue e se contorcendo por
terem tomado gás de pimenta no rosto, enquanto o BOPE arrancava seus pais de
seus barracos no frio da madrugada aos gritos "Acorda vagabundos!". Nada
disso saiu nos jornais, onde a tônica era que a polícia foi chamada a "fazer
cumprir a lei". Ninguém reportou quem os chamou, ou qual lei foi cumprida.
Novamente, como no ano passado em que os Kayapós agrediram um engenheiro da
CHESF e foram rotulados de ignorantes e instransigentes, não se deu voz aos
índios para contarem sua versão história. Naquele momento, não mostraram a
fala em que este engenheiro transformado em vítima pela mídia os provoca e
ofende insinuando que a alternativa para as mulheres era a prostituição, e
aos homens Kayapó vender  pipoca nas obras. Nada disso é de hoje, mas
novamente a informação não chega as pessoas. Desta vez a estratégia foi
abafar o caso, e amanhã provavelmente nada sairá nos jornais, televisões e
portais de notícias.
Estes índios protestam contra a extinção de postos indígenas que ligam suas
aldeias a quem os devia proteger - a FUNAI, mas que covardemente nega a eles
até mesmo o reconhecimento de serem povos indígenas! Estas autoridades não
estavam lá, e não ouviram as maldições que em várias línguas foram lançadas
contra elas nas pajelanças daqueles que elas dizem não serem índios.
Estas pessoas que o governo diz não serem índios estavam lá protestando
contra a mineração e os grandes empreendimentos em terras indígenas, como a
funesta Usina de Belo Monte. Onde houveram estas obras antes no Brasil e em
outros países elas somente trouxeram doenças, prostituição, alcoolismo e
crime para os povos tradicionais. Isto é inclusão social pela prostituição e
a marginalidade nos centros urbanos. Nada diferente dos militares.
Este ato criminoso do Estado Brasileiro contra seus povos originais
demonstra não apenas o intenso desprezo e preconceito das autoridades.
Demonstra a completa percepção de impunidade na violação dos Direitos
Humanos quando os atingidos são os povos indígenas, mesmo estando a 1km do
Congresso Nacional, dos Tribunais e do Palácio do Planalto.
Mesmo assim eles continuam no local. Ongs, professores, sindicalistas,
voluntários e militantes estão os ajudando de todas as maneiras que podem.
Sua comida foi jogada fora pela polícia. Seus cobertores foram levados. Até
mesmo a fossa séptica instalada foi retirada. Mas eles continuam no local.
Divulgue a carta das mulheres e esta mensagem.

Marcos Woortmann - voluntário

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