SEXTA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO DE 2010
Carta para aqueles que confiam em mim
por Alberto Goldman
Vocês conhecem a minha história. Não faço política por interesse pessoal, nem por qualquer vaidade. Não minto. Não cheguei ao governo de São Paulo buscando o poder, mas nele, ainda que limitado e produto da conjuntura política em São Paulo, que me tornou vice do governador José Serra, procuro honrar meu passado e honrar aquilo que meus pais me ensinaram: a honestidade, a vontade de servir, de dar o que eles não tiveram, mas que o povo brasileiro me possibilitou ser, e que ele, povo, não pode ter. Desde menino me indignou ver a pobreza, a miséria, a injustiça, a discriminação de todo tipo. Ver a abundância de alguns e as carências da maioria.
Enfrentei, por isso, uma ditadura, ajudei a construir a democracia, buscando o desenvolvimento para todos os brasileiros, especialmente para aqueles que dele mais precisam. Exerci mandatos de diversos tipos, sempre honrados, orgulhoso de ver que muitos compreendiam o meu caminho e a minha ação.
Este ano completo 40 anos de atividade política profissional, período em que deixei de lado minha profissão original, minha família e meus amigos, a troco de me sentir útil, cumprindo um destino que me levou a ser o que sou.
Posso, portanto, pedir a você que acredite nas minhas palavras.
Quando das eleições de 2002, entendi que não seria danoso para o país que o PT assumisse responsabilidades maiores, até de presidir a República. Até então ele tinha sido, apesar de um obstáculo a todas as transformações que o país necessitava, um partido de gente honesta, bem intencionada, ainda que de um dogmatismo reacionário, que beirava a insensatez. Durante os quatro anos seguintes convivi no Congresso Nacional, já acompanhando preocupado as transformações que ele sofria, no sentido de passar a colocar o poder pelo poder como o objetivo maior, passando a usufruir, cada qual pessoalmente, do seu exercício. Foram os líderes petistas perdendo, rapidamente, a sua característica de combatividade pelos interesses do país, transformando a sua ação política em benefício para si próprios. Seu grande líder, Lula, foi a cobertura e o aval para essas mudanças de caráter e de conduta.
Nos quatro anos do segundo mandato, o processo se aprofundou e o apodrecimento da maioria dos líderes do PT ficou patente. Cada um por si, um após outro, foi se vergando às delícias do poder e do dinheiro que o poder lhes propiciava. Mas continuavam, apesar de seus conflitos internos, amalgamados pelos interesses comuns.
Tudo isso vi, vivi, senti, amargurado. Homens e mulheres que tiveram sua história na vida do país, cada vez menos se diferenciavam do que de pior a vida política nacional havia criado.
Agora o clímax, a campanha de 2010. Lula, em função de seu prestígio, auferido em função de sua capacidade própria de falar às massas, de manipulá-las de acordo com os seus interesses próprios, de sua surpreendente transformação em um comandante que críticos e críticas não conseguiram sensibilizar, navegando em um período de crescimento econômico possibilitado por uma conjuntura internacional altamente favorável, decide lançar, com todos seus companheiros atendidos nas benesses do poder, a figura de Dilma Roussef, tirada ninguém sabe donde, para presidir o Brasil.
Surpreendido com um resultado no primeiro turno, que não esperava, lançou-se mais ainda do que antes, à tarefa de comandar a campanha usando, sem quaisquer escrúpulos, o prestígio que adquiriu. Com ele, todas as mentiras viram verdade aos olhos do povo.
Sua administração é medíocre. Projetos de infra-estrutura não saem do papel: rodovias, ferrovias, aeroportos, portos, banda larga, produção de energia elétrica. No campo social, o que resta além das UPAs (cópia fajuta das AMAs e das AMEs), das escolas técnicas, que foram concebidas depois que viram o resultado das nossas em São Paulo, mas que ainda gatinham pelo país? Algum combate efetivo ao contrabando de armas e de drogas? Alguém seria capaz de citar algum projeto do governo, para a melhoria da vida do povo, de alguma importância que tenha se concretizado? Fora seus discursos, cheios de parábolas vazias, algo mais consistente?
Absorveu os projetos do governo anterior mudando apenas seus nomes (bolsa-escola virou bolsa-família, luz no campo virou luz para todos), manteve as políticas econômicas anteriores (a maior de suas virtudes), impressionou líderes mundiais, menos pelas suas ações objetivas do que por sua figura de líder que, vindo das camadas mais pobres, tinha conseguido a paz social, tão almejada pelas elites mundiais - não importa que tivesse sido pelo amortecimento e cooptação corruptora dos movimentos sociais, inclusive dos sindicatos de trabalhadores.
A insistência da campanha de Dilma, acusando o governo anterior e o candidato Serra de tentarem privatizar a Petrobras, questão nunca tratada, mesmo por que ninguém teria a insensatez de eliminar um monopólio estatal e criar um monopólio privado, que seria mais poderoso que o próprio Estado brasileiro, é uma das maiores e mais graves mentiras da publicidade eleitoral, levando o povo a acreditar que toda a privatização (apesar de eles a terem usado em diversos casos) tenha sido um processo de corrupção para beneficiar empresas estrangeiras.
E a privatização do setor siderúrgico, que nas mãos do Estado produzia imensos rombos nas finanças públicas? E a Vale do Rio Doce, empresa que só se desenvolveu criando milhares de empregos, gerando divisas para o país, aumentando em dezenas de vezes a sua produção nas mãos de setores privado, produzindo impostos para serem utilizados para o desenvolvimento de várias áreas da ação do Estado, ali onde ele é insubstituível? E o setor de telefonia que, se ainda estatal, nos estaria mantendo na pré-história das comunicações?
Na verdade, é no governo atual que os grandes grupos econômicos, nacionais e estrangeiros mais obtiveram lucros, mais se consolidaram, mais passaram a dominar a economia nacional.
E o pré-sal que nos acusam de querermos privatizar quando sabemos que sua descoberta se deu em função do modelo ainda em vigor, que o atual governo quer modificar, mas ainda não o fez.
O que dizer do aparelhamento do Estado nacional, a entrega à gente desqualificada e despreparada das funções mais importantes de direção e controle das atividades econômicas?
E que fique claro: na hipótese da vitória de Dilma, podemos esperar graves crises políticas já que as forças que estão ao seu redor, totalmente alheias aos interesses da Nação, inclusive as petistas, saltarão sobre o poder com uma voracidade ainda maior do que hoje já fazem.
Apoio Serra, não por ter sido seu vice, muito menos por ser do seu partido. Para mim isso não é tão importante. Apoio Serra por que o conheço pelo seu compromisso, histórico, com a melhoria das condições de vida do povo brasileiro, presente desde os bancos escolares. Pela sua vida limpa, pelo seu perfil de realizador, pela sua obstinação em construir um país melhor, mais justo, pela sua sensibilidade em relação aos mais humildes, aos mais necessitados. A sua ação em São Paulo como prefeito e como governador comprova o que digo. A minha experiência ao seu lado me dá a certeza do que afirmo.
Não tenho qualquer objetivo político que me induz a escrever essas linhas, a não ser a manutenção do meu compromisso que me fez seguir a vida política. Não tenho ambições pessoais, os que me conhecem, sabem. Mas não gostaria de festejar meus 40 anos de atividade no caminho que trilhei, com a derrota de ver o meu país nas mãos de pessoas que não podem mais, não merecem mais, o meu respeito, muito menos a minha confiança.
Penso falar pelos interesses do meu povo. Estou convicto, repito, pelo que vi, que vivi e que senti, que a única opção que temos é eleger Serra presidente e terminar esse ciclo petista e lulista que tanto me decepcionou.
Ainda é tempo. As pesquisas que temos, dão uma diferença bem menor do que mostram as publicadas. Assim também foi no primeiro turno. É possível vencer. Depende de nossa ação nesses últimos dias.
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