Março de 2011, um século de luz em Bauru
O Brasil consagra o americano Thomas Alba Edison como criador da lâmpada elétrica, em 1878. No Mundo, há controvérsias, e o inglês Joseph também é apontado como o “gênio da lâmpada”.
No Brasil, a luz chegou: Rio de Janeiro, 1879; Em São Paulo, Rio Claro, em 1884 e na Capital, em 1988.
Em Bauru, a luz chegou em 16 de março de 1911, na então Praça Municipal (Rui Barbosa), transmitida da micro Usina de Guaianás, distrito de Pederneiras. Algumas cidades da região, como Botucatu, Lençóis e Agudos já tinham o benefício. Os acordes da banda municipal, os 21 tiros de morteiro (simbolizando os 21 Estados da Federação) e os fogos de artifício anunciaram a chegada da Luz aos 10.000 moradores de Bauru. Até então, nas poucas ruas de Bauru, existiam os lampiões a querosene, só acesos em noite sem luar. Mas nem tudo era festa. Ao lado do toque alegre e romântico do logradouro público iluminado era apavorante para a população conviver com fios elétricos suspensos sobre suas cabeças nos 18 km que separavam a Geradora de energia da Praça iluminada.
À época, o temor de ser eletrocutado por um fio rompido ou ser atingido por um raio não era só dos moradores de Bauru. Francisco Simões, ex-Prefeito de Herculândia, que recebeu eletricidade no final da década de 40, relatou-me: “Só a presença de policiais garantiam que os postes fossem fincados nas cidades de nossa região. A concessionária instalava os postes de dia e, a noite, a população derrubava”. Foi nesse cenário de conflito que em 1934 foi concebido o Código de Águas, que consagrou o direito das Concessionárias de Energia ocupar o solo público com linhas elétricas, sem ônus. A história mostra-nos que toda novidade gera polêmica: Na Inglaterra, fim do século XIX, as locomotivas a vapor eram apedrejadas; boicotes marcaram as obras do gás encanado na cidade de São Paulo; Rui Barbosa insurgiu-se com a vacinação obrigatória. Nossos descendentes vão ironizar as polêmicas sobre: torre e aparelho celular; microondas; células-tronco; transgênicos. Já gerou polêmica e teve seus dias de vilã a hoje aclamada lâmpada a vapor de sódio. A população rejeitava a luz amarelada, por dar sensação de neblina e de alterar a cor dos alimentos, isso no final da década de 80! Taí a discussão com energia nuclear, por conta do Tsunami no Japão. Imagem se ocorre um abalo sísmico na Usina de Itaipu? Praticamente todo um País seria devastado: o Paraguai.
Sob essa ótica, o temor do desconhecido, imaginem a pressão que os Vereadores de Bauru tiverem que superar para aprovar a concessão aos engenheiros Antônio de Almeida Cintra e José Joaquim Cardoso Gomes, em 1909? Fruto dessa concessão que Luz chegou a Bauru e possibilitou a fundação da Empresa de Eletricidade de Bauru, em 01 de julho de 1911, sob a presidência de Raul Renato Cardoso de Mello.
Em 1915, Bauru tinha 277 lâmpadas. No fim da década, uma enchente destruiu a Usina Guaianás. O “apagão” só encerrou em 1920, com a extensão de linha 15 kV, vinda da Usina de Lençóis. Mas, já no ano seguinte, a linha de transmissão 60 kV da Usina de Avanhandava, chegava a Bauru, originando a primeira subestação na cidade.
Ainda em 1921, no dia 29 de dezembro, com a extinção da Empresa de Bauru, a CPFL, assumiu a responsabilidade. A CPFL havia sido fundada em 16 de novembro de 1912, fruto da fusão de quatro pequenas empresas, sendo a mais antiga, a Força e Luz Botucatu (1905).
Até 1928 não existiam eletrodomésticos e o consumo restringia-se às residências, comércio, Iluminação pública e cinemas. Os consumidores pagavam por lâmpadas instaladas (16 ou 32 velas), monitoradas por fusíveis. Diante dessa situação, em 1929, a CPFL instalou em Bauru área comercial, na Rua Virgílio Malta, para a venda de aparelhos elétricos (com medidores), em 36 meses: geladeira, fogão e ferro de engomar. Aí o pioneirismo da CPFL deixou sua marca e contribuiu com o desenvolvimento da região. Só a partir de 1934 as fábricas de óleo, máquinas de benefícios de café e algodão passaram a usar eletricidade.
Na década de 30, algumas obras mexeram com a qualidade de vida da população, segurança e a arquitetura urbana de Bauru: em 1933, instalações de postes e “luminárias modernas” na Rodrigues Alves e Araújo Leite; em 1939, iluminação de ruas mais distantes, do Jardim Bela Vista.
O contínuo aumento de demanda fazia com que a CPFL ampliasse o seu parque gerador, transmitindo de locais longínquos. Hoje quase toda eletricidade de nosso Estado é oriunda de sistema interligado. Integra o sistema a mega subestação da CESP Bauru, onde há entroncamento de 10 % da demanda nacional.
Esse legado, documental e material, foi compilado junto a ex-empregados, mídia e historiadores, por ocasião da instalação do “Centro de Memória Regional” (Museu) e da deposição da “Cápsula do Tempo”, em novembro de 91, inseridos na programação (oficial) dos 79 anos da CPFL. A abertura da Cápsula foi programada para o centenário da CPFL (2012). A coordenadora do projeto foi Martha Arias, da CPFL, sob a orientação da Profa Terezinha Boteon, da UNESP. À época, como responsável pela então Regional de Bauru, meu objetivo era retratar e preservar a história da eletricidade de Bauru e Região (88 localidades) e ofertar à comunidade um espaço cultural para informação e pesquisa.
(O autor, Braz Melero, CREA 34380 e CRA 24428, foi regional da CPFL).
Fonte: site da ASSENAG Bauru: http://www.assenag.org.br
Um comentário:
Cassio, meu querido, que bom você tornar público os atos que nos trazem orgulho de nossos antepassados. Mas do seu avô, também sei o quanto foi perseguido pela ditadura Vargas, de sua casa bombardeada em São Paulo, de sua fuga com os filhos pequenos em busca de abrigo em meio aos escombros ...senador incansável que enfrentou até um pelotão de fuzilamento em que os soldados se recusaram em atirar, depois dele ter lido sua última carta ao povo brasileiro. E como este país infelizmente sofre de aminésia, em Bauru temoos uma rua com o nome do infeliz do ditador Getúlio Vargas...em Pirajuí até mesmo uma biblioteca leva seu nome ... pobre São Paulo!
Ah, ia me esquecendo: Quanto a vacinação do povo que o Rui Barbosa foi contra - faltou dizer que, ele não foi contra a vacina em questão, mas sim cntra a ingerencia do Estado sobre os corpos das pessoas - a livre vontade de ser ou não vacinado. Ele foi contra o totalitarismo e não contra a vacina. Aliás, ela foi apenas o mote.
Rejane Busch - bisneta e neta de ferroviários da antiga Cia Paulista e filha de um Servidor Público Estadual
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